domingo, 12 de abril de 2020

O Poder a favor da vida

Muro escolar revestido com cores da bandeira brasileira
em Marinópolis-SP, 2014
      Em tempos de pandemia causado pelo Coronavírus - Covid 19 - refletimos sobre o Poder ao longo da História.
   A partir dos estudos feitos, ao longo de décadas, pelas Ciências Humanas, no período contemporâneo, percebe-se que os fenômenos sociais mais presentes na humanidade são o poder e a violência.
     Embora as Ciências Humanas têm, no seu início, corroborado em alguns momentos da História com a permanência da hegemonia de certos povos ou grupos da sociedade, justificando seu poder por vias racionais, as Ciências Sociais têm diagnosticado que a violência gerada é fruto das "legitimidades" outorgadas ou promulgadas por "Direitos" discutidos no âmbito político-econômico-geográfico, causando no social tensões nas nações por elas investigadas.
     O fenômeno "Poder", desde tempos remotos, esta enraizado no ser humano como algo intrínseco a sua natureza. Se de um lado, trouxe aparentemente benefícios para uns, no entanto, causou e tem causado sequelas desumanas para uma grande maioria dos homens ou sociedades.
     Nesse sentido, o filósofo italiano Giorgio Agamben em sua obra O Poder soberano e vida nua, desperta reflexões significativas. Trata da capacidade que o ser humano tem de usar a linguagem e com ela persuadir um grupo ou povo, demonstrando com isso que a materialidade do homem como tal está nessa habilidade imanente e, não apenas epistemológica, de criar conceitos direcionados a seus pares como acreditava Hegel. Influenciado por Aristóteles, Agamben dialoga também com Heidegger, Kant, Foucault, Nietzsche, Arend, Benjamin buscando compreender o "dispositivo" que ontologicamente está eclodindo no seio das culturas. A partir dos estudos feitos sobre o período moderno constata-se que os indivíduos controlados pelo Estado passam a serem vistos como meros objetos "mercadológicos", gerado por um "biopoder", ou seja, o econômico prevalece além do corpo social e cultural, sendo a violência a exploração como consequência.
    Com isso, podemos relacionar a análise feita por Alfredo Bosi, em Dialética da colonização, onde apresenta de modo peculiar as versões utilizadas pela linguagem com o outro.Os exemplos dos poemas de José de Anchieta faz-nos pensar como aquilo que, aparentemente seria uma forma de santidade, de purificação para uma civilização, demonstra uma forma de dominação da cultura europeia cristã a outra. Apesar de seu esforço em adaptar a realidade indígena às suas peças, por exemplo, percebe-se o quanto de ideologia, por meio da linguagem, violentou tantos povos causando o etnocentrismo, ou seja, violência nos costumes, até hoje, dizimados pelo mundo e em nossa sociedade que estabeleceu preconceito entre cultura erudita versus cultura popular. Isso relacionado aos estudos de Agamben faz-nos refletir num momento que tal "dispositivo" foi acionada na humanidade, visto que a Idade Média também foi palco de "legitimidades" privilegiadas para uns em detrimento de vários outros.
     Nessa "dialética da colonização", que nada mais é que estratégia do poder, Assaman também chama a atenção para o "silêncio coletivo" durante o período do holocausto e do nazismo, em sua obra Espaço de recordação. A autora discute que não há ausência de memória, pois ela acontece nos grupos sociais promovendo encontros, recordações. Mas, "a memória não se enquadra na História", porque como verificamos pela bibliografia citada, o poder registrado pela História tenta "apagar" a memória de grupos ou povos. No entanto, indivíduos ao se encontrarem formam grupos sociais em busca de sua identidade. Geralmente, a memória dos mortos passa a ser o ponto de partida para a identidade desse grupo. Como também foi citado na obra de Bosi quando analisou a violência que os portugueses faziam com os indígenas, tirando-os de suas terras.
     O antropólogo Appadurai, em O medo do pequeno número constata, também, a relação do poder causada pela modernidade, que do Ocidente foi para as civilizações milenares da Ásia. O fato da economia capitalista querer dominar o mercado externo faz os blocos econômicos disputarem e explorarem o trabalho humano causando mais violência nas várias dimensões, não só política mas social e cultural gerando um exército de mão de obra não qualificada na Ìndia e em outros países do Oriente sem terem direitos.
     Said critica o "Imperalismo do Ocidente" que tem causado desastres não só econômicos, mas também, culturais. As crenças, os costumes, as economias locais, próprias das famílias bem como a linguagem não foram respeitadas nas suas aldeias. No início, nem se quer levadas em conta concebendo o mundo como uma "aldeia global".
     O fato de o Ocidente ver o Oriente com outros olhos isso não lhe dá o direito de negar o modo de vida que têm. O Oriente tem muito a contribuir para com o Ocidente. Por isso, a busca de um diálogo sobre seus símbolos e significados, haja visto, pela História, que países como Inglaterra e outros povos europeus dominaram e causaram tantas vítimas humanas. Hoje o capitalismo imperalista passou a ser questionado pelas minorias. 
     O Iani perpassa pela globalização gerada pelo capitalismo, também verificando que o massacre cultural dos povos não é nem sempre pela violência física, mas ideológica que existe por traz da mídia. Esta, busca manter uma ideia dessa "aldeia global" por meio da tecnologia, agora informatizada. Em  O mal-estar na civilização, de Freud, já alerta para os problemas psicológicos que os indivíduos da modernidade iriam enfrentar devido ao poder, tanto político-econônico quanto religioso, seriam constatados.
     A violência às crenças dos indivíduos, à sexualidade controlada pelo modo de produção capitalista ou pela Igreja será o mal do período contemporâneo, desestruturando indivíduos e suas famílias que por causa da produção terão as energias (libidos) direcionadas a satisfação de uma determinada classe. Diante de todo poder estabelecido pela globalização, Boaventura de Souza, propõe em Reinventar a teoria crítica e recomeçar a emancipação social  abrangendo uma nova ética para a Sociologia ou Ciências Sociais, concebendo, assim, a "Sociologia da ausência" e a "Sociologia da emergência".
     Abordar a necessidade em "Sociologia da ausência" reverte os monopólios das monocultura do saber, da produtividade, da mercadoria, da economia, das diversidades e compreender a "Sociologia da emergência" em que a ecologia do saber, da  produtividade, das relações das diferentes, da desescala entre outros aprofundamentos sugere o entendimento, das diversas facetas das culturas humanas como uma forma de buscar um convívio social tolerante, fraterno em que de fato todos possam gozar dos direitos, sem violência em que o poder seja a favor da vida.
     
     

sábado, 4 de abril de 2020

Filosofando em tempos de Coronavírus

     Em tempos de crise, seja ela pessoal ou social, há a necessidade de parar e refletir sobre o caminho que se fez e qual o caminho que se quer fazer. 
     Toda pessoa tem etapa na vida e, para mim, não é diferente. Precisei parar para refletir e organizar a caminhada. Passaram dias, semanas, e quando vi, meses. O tempo do filosofar não é o mesmo do relógio.
     Com o novo caminho, retomo o blog em tempos de crise maior que o pessoal, agora é mundial.
     A reflexão ou o filosofar é, mais uma vez, necessário para podermos caminhar.
     Para sabermos qual o caminho seguir devemos nos perguntar: O que queremos? 

 
     O que somos? De onde viemos? Para onde vamos? Já foram perguntados há séculos. Temos algumas respostas... Mas, o que fizemos com as respostas que já foram respondidas? 
     O mundo está passando por momentos difíceis, mas para quem conhece a História da Humanidade lembra dos percalços trilhados pelos mais corajosos.
     Todos somos convidados a filosofar, parar para refletir, analisar o caminho percorrido e pesar os resultados. Relembrar dos ensinamentos, questões e resultados que deram certo para se voltar a felicidade, não hedonista, mas, sim, do bem comum.
     O tempo do filosofar pode ser chamado de "quarentena" neste momento em que cada um deve estar em sua casa. Casa essa que não deve ser só física, mas adentrar em sua "casa interior" e refletir.
     Que possamos juntos, diante do desafio de um novo vírus - Covid 19 - buscarmos nos comprometer com a vida não só material, mas também, transcendental, pois o Universo é um só. Somos todos conectados.
     É tempo de cuidarmos de nossa saúde física, mental, psíquica, espiritual; cuidarmos mais uns dos outros e, assim, vivermos numa sociedade justa e solidária.

De volta ao Filosofia em ação. Pensar bem para bem viver

         Axé! Karen! Olá! Desejo a todas e a todos e todes muita saúde.      Infelizmente, durante a pandemia muita/os companheira/os brasil...